Lendo um artigo no jornal semana passada, lembrei-me de conversas com meu pai, Eng. Euclydes Casella, nos anos 1970.
Eu reclamava da nossa geladeira. Não sei por que motivo resolvi implicar com isso, mas aquela velharia me incomodava; ela fazia muito barulho e, o mais terrível e imperdoável para mim: não acendia a luz interna.
Como que querendo manter a família atualizada nas tecnologias mais modernas pois, décadas distante dos smartphones, tablets e internet, só tínhamos a TV, aparelho de som, telefones com fio e geladeira como os eletrônicos que mostravam quanto sua família era tecnologicamente avançada.
Do alto da minha sabedoria adquirida nos 10 anos de experiência de vida, considerava que a nossa geladeira nos remetia à idade da pedra, e que a única explicação para isso era o "pão-durismo" de meu pai.
Certo dia, questionei-o mais diretamente sobre a peça de museu que habitava nossa cozinha e ele, de forma muito didática e sempre paciente, explicou-me que o grande motivo para o adiamento da troca era um problema que nunca havia me ocorrido: o que fazer com a antiga.Como ela estava muito velha e ultrapassada, dificilmente alguém iria querer ficar com ela.
Portanto teria que ser jogada no lixo.Bom, o lixo é pra isso mesmo, respondi, e foi quando recebi uma aula de responsabilidade ambiental, quase 40 anos antes do tema virar moda."A geladeira tem muitos componentes, muitos materiais que só ficam entupindo o lixo. Tudo isso só vai ocupando espaço e isso ainda vai ser um problema.
Como a nossa ainda está funcionando e não está nos atrapalhando, vamos ficar com ela até quando der. Quando precisar mesmo, ai trocamos e jogamos a antiga no lixo."Comecei então a observar os hábitos de consumo da nossa casa.
Embalagens de papelão, saquinhos plásticos, frascos de vidro e até mesmo pedaços de papel que eram reaproveitados como bloco de anotações, tudo o que eu considerava um absurdo guardar e ficar ocupando espaço com "lixo", ele tentava reaproveitar.Meus pais nunca deixaram faltar nada em casa. Mas também não deixavam sobrar.
E desperdícios eram inaceitáveis.
Hoje, com a onda das políticas de 3R (reduzir, reusar e reciclar), vejo como meu pai, também nesse tema, é um homem a frente de seu tempo, com a visão de como o ser humano é parte integrante do planeta e quão impactante pode ser no seu equilíbrio.
Ao meu pai, que até hoje se mantém fiel aos seus princípios, independente de modismos, só tenho a agradecer pelo exemplo e por ter poupado o meio-ambiente nesses quase noventa anos de consumo consciente. Ele que é minha pessoa predileta no mundo.
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