Bispo profético – uma necessidade

Neste mundão de economia e filosofia globalizadas, é preciso que haja profecia para nos levar à reflexão da vida. Em seu artigo, o filósofo Sérgio Peixoto Mendes (Gazeta do Sul, 21/12/2007) ataca cegamente a pessoa de dom Luiz Cappio, ao invés de analisar a questão da transposição ou revitalização do rio São Francisco. Dom Luiz Cappio conhece muito bem o rio São Francisco, pois percorreu seus 3.820 km da nascente à foz e escreveu um livro sobre o assunto. O filósofo Mendes esquece, desconhece ou desrespeita este fato. O filósofo acredita que o ato profético do bispo é um ato político. Esquece que todo ato é político, inclusive o de se cruzar os braços diante de uma questão, além de pecado grave. Para conhecer melhor a questão, recomendo que o senhor Mendes se inteire da posição da ANA (Agência Nacional das Águas) e da ASA (Articulação do Semi-Árido brasileiro) sobre o projeto da transposição do rio São Francisco. Recomendo o que disse o professor na Universidade de Minhas Gerais, Thomaz da Mata Machado. Recomendo o artigo do ex-governador do Sergipe, senhor João Alves Filho. Recomendo inclusive o artigo de dom Cappio. Todas estas matérias foram publicadas recentemente na imprensa nacional. Recomendo também a leitura de Marilena Chauí, que compreende melhor as coisas. O que está em jogo são dois projetos, senhor filósofo: de um lado, o modelo sustentável, que valoriza a agricultura familiar e a preservação da natureza; e do outro, o que privilegia o agro e o hidro negócios. O filósofo Mendes cita Ghandi, mas esqueceu ou desconsidera outros nomes mundiais que deram a vida por causas populares, a exemplo de Joana D’Arc, Santa Rita de Cássia (pela paz), Lampião (pela terra), Josimo Tavares, Tiradentes, Santo Dias da Silva (pela questão operária) etc. Cada um a seu modo, é claro. Sem esquecer Jesus Cristo. Com os 4,9 bilhões da transposição, senhor Mendes, daria para o governo federal fazer cisternas para acabar com a seca de dois Nordestes. E a transposição está sendo bancada somente pelo governo Lula porque não conseguiu apoio do capital internacional que também não concorda com esta modalidade, mas gostaria de financiar a revitalização com uso racional e de acesso aos sertanejos, lá onde ronca a seca. Recomendo ao filósofo a leitura do livro A Origem da Desigualdade Entre os Homens, de Jean-Jaques Rousseau, que reflete sobre os valores éticos entre o ter e o ser. Ter um rio para o agronegócio é bom, mas ser um rio para a vida abundante é um ato profético. O filósofo Mendes diz que o ato de dom Cappio não servirá pra nada. Então desconhece o poeta Fernando Pessoa quando diz: “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”. O filósofo Mendes tem alma pequena?

Dogival Duarte/Escritor e jornalista

fonte:GazetadoSul

Nenhum comentário:

Natureza