E se fosse no Rio Grande do Sul?

Seguramente, a Operação Arco de Fogo que está acontecendo em Mato Grosso não aconteceria contra produtores e contra cidadãos gaúchos dignos. Se fosse em Minas Gerais, no Paraná, na Bahia, em Pernambuco e Goiás, muito menos. Lá, seguramente, o Ibama, a Polícia Federal e o tresloucado Ministério do Meio Ambiente se sentariam antes com autoridades estaduais, com setores representativos da produção e com os políticos, antes de mandar um aparato policial invadir indústrias madeireiras e intimidar cidades inteiras com a Polícia Federal.

A pergunta é: por que em Mato Grosso o Ministério do Meio Ambiente pode recrutar o Ibama e a Polícia Federal para uma operação dessas? A resposta é tão simples quanto a pergunta. É porque falta articulação política. Como? Perguntaria o leitor. Se fosse no Rio Grande do Sul, todos os parlamentares estaduais, federais, vereadores e prefeitos barrariam a entrada do Ibama e da Polícia Federal nas cidades, se eles entrassem de forma truculenta como entraram em Sinop e Alta Floresta. Os setores produtivos se uniriam e a eles se uniriam os parlamentares e a própria sociedade, que daria ao governador do Estado a força de agir contra essa federação brasileira apodrecida e caótica.

Mas cadê os nossos parlamentares? No auge da invasão do Ibama e da Polícia Federal, estavam reunidos na Assembléia Legislativa discutindo cargos, no caso a nomeação do secretário estadual de Turismo. Porém, o pior é que as regiões norte e noroeste têm deputados eleitos. Onde estão os três senadores e os oito deputados federais? Não importa onde estejam os parlamentares. Eles deveriam estar em Sinop para inibir a demonstração de força do Ibama, justamente do Ibama, o causador de tudo o que está acontecendo de errado com o meio ambiente em Mato Grosso.

Imaginei que a Assembléia Legislativa de Mato Grosso realizasse uma reunião de emergência em Sinop para dar proteção política aos empresários e à sociedade local contra a truculência federal. Nenhum parlamentar federal moveu um dedo ou denunciou em Brasília, nas tribunas da Câmara dos Deputados e do Senado, que foi o Ibama quem ao longo da história nunca agilizou qualquer política de sustentabilidade no Estado. Pior: ao longo de mais de 30 anos recolheu de cada árvore serrada uma taxa para reflorestamento e nunca devolveu um centavo para o reflorestamento em Mato Grosso. Os projetos de manejo sustentado foram engavetados, ou eram aprovados mediante o pagamento de propinas aos técnicos. Da mesma forma, as licenças para desmatamentos saíam mediante propinas e daí por diante nenhuma fiscalização. Ou, então, tudo tinha um preço que resolvia eventuais questões.

Há menos de dois anos a Secretaria Estadual do Meio Ambiente assumiu, mediante acordo com o governo federal, a fiscalização, a aprovação de manejos florestais e todas as atividades relativas. A operação Arco de Fogo rompe com o protocolo, num claro gesto de retaliação contra o Estado.

Fico imaginando tudo isso no Rio Grande do Sul. E morro de inveja ao pensar que aqui somos tratados como Estado de terceira linha, por nossa própria culpa!



*fonte: Diario de Cuiaba: ONOFRE RIBEIRO é articulista deste jornal e da revista RDM

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